terça-feira, 5 de agosto de 2014

Mães Concurseiras - Uma história de sucesso

Núbia Oliveira
12/05/2013

Tudo começa naquele dia que descobrimos estar grávidas. Para a maioria das mulheres a felicidade é imensa, e o pânico também: nunca mais a vida será como antes! Já não poderemos mais nos guiar apenas pelos nossos próprios desejos e jamais seremos cem por cento livres novamente.

Mas e daí? Quando eles nascem, aquelas coisinhas tão pequeninas, que dependem de nós para tudo, inspiram um sentimento tão profundo de amor, que o preço da liberdade e da autonomia parecem insignificantes. E a partir desse momento passamos a guiar nossos passos sempre levando em consideração o que será melhor para eles.

Algumas mulheres chegam à fase da maternidade no momento em que já alcançaram realização em outros campos de sua existência. Mas essa não é a realidade da maioria. E não é porque os filhos nasceram que deixamos de ser mulheres, esposas e profissionais. As aspirações de encontrar a realização em outros setores da vida continuam ali.

É nessa busca que muitas de nós nos deparamos com o mundo do concurso público. E como ele nos parece particularmente belo, não é? Nele temos nossos direitos protegidos de forma segura, e não precisamos nos submeter à tirania do setor privado, que é capaz de demitir uma mulher na primeira oportunidade que a lei permita, simplesmente porque ela ficou grávida e agora terá outras responsabilidades. Na carreira pública não tememos perder o emprego, ou sofrer outro tipo de represália, quando tivermos de faltar ao serviço para levar o filho ao hospital (e nos munirmos do devido atestado médico, obviamente). Prestando serviço público temos horário certo para entrar e sair do trabalho, sem sermos obrigadas a fazer incontáveis horas extras porque o patrão quer até a nossa última gota de suor e energia criativa (e os filhos que fiquem sozinhos em casa). Também não somos “coagidas” a levar trabalho para casa, nem a usar nossos finais de semana para dar conta de uma demanda que deveria ser de outro profissional que o patrão não quer contratar para não reduzir os seus lucros... enfim, conseguir um emprego via concurso público muitas vezes nos parece a forma mais lógica de termos uma vida relativamente tranquila e digna, onde poderemos dar a nossa família a atenção que desejamos e o suporte que ela precisa.

Tudo muito lindo e perfeito, vou ser servidora pública!

É aí que as coisas começam a complicar... para conseguir um bom cargo público é necessário estudar, e estudar muito! Quanto melhor for o cargo, maior tem de ser o estudo e a dedicação. E isso leva tempo, mexe como o nosso emocional, perturba o equilíbrio familiar e exige disciplina e planejamento. Ou seja, há um preço a pagar, e ele é alto.

É exatamente no momento em que tomam consciência do tamanho desse preço que a maioria das pessoas desistem, sejam elas mães ou não. As que são mãe, logo se ESCONDEM atrás de seus filhos... “meus filhos precisam de mim, não posso gastar esse tempo todo estudando”, “se eu me dedicar ao estudo, não vou poder cuidar dele sozinha”, “tadinho, nunca vai entender que eu preciso passar algum tempo desligada dele para estudar”... e assim enterram de vez as pretensões que um dia tiveram de se realizar profissionalmente, ou então submetem-se a uma carreira mais simples, que lhes fará pagar um preço menor todos os dias de sua existência, porque não tem coragem de pagá-lo de uma vez só por um determinado período.

Mas nem todas as mães ESCONDEM-SE atrás de seus filhos quando se deparam com as dificuldades de estudar para um bom cargo público. Pelo contrário, algumas assumem a postura de ESCUDO deles: “eu vou conseguir passar e dar uma vida melhor para a minha família”. A essas bravas guerreiras, a minha mais sincera admiração!

Como se já não bastassem todas as dificuldades inerentes a vida de um concurseiro, as mães concurseiras ainda tem de lidar com um grande peso extra: o sentimento de culpa pelo tempo em que não podem dar atenção ao filho. Esse fator é tão expressivo que a maioria de nós tenta minimizá-lo ao máximo, sempre arrumando estratégias que nos permitam estudar e mantê-los sob nossa vista, ou fazendo os mais diversos malabarismos na rotina atribulada para conciliar estudos e disponibilidade.

Sou mãe de duas crianças e sempre me perguntam sobre as estratégias que usei. Foram várias, mas poucas de caso pensado. A necessidade surgia e eu tentava arrumar uma solução. Quando comecei a me tornar uma concurseira de verdade, minha filha tinha 8 anos, e meu filho 2 anos. Não sei quantas vezes, por exemplo, estudei com meu filho no colo (principalmente quando ele estava meio doentinho), colocando um filme no computador e fones de ouvido nele, enquanto eu lia o livro que estava no suporte ao lado. Também por várias vezes coloquei-os para dormir escutando aulas no fone do celular (só aulas que já tivesse visto). Fazia isso também quando cozinhava aquelas “comidinhas de mãe” para eles. Da mesma forma ficava ouvindo/vendo aulas no som do carro enquanto os esperava sair da escola, e até mesmo enquanto dirigia com eles dentro do carro. Se eu estivesse ouvindo qualquer coisa, respeitavam e ficavam em silêncio. Engraçado que eles podem até não conhecer alguns artistas famosos (não tenho TV em casa), mas sabem apontar quem é Ricardo Alexandre, Sílvio Sande, Ricardo Vale e cia (rsrs).

Mesmo adotando essas e outras estratégias, muitas das vezes que eles precisaram de mim eu não estava lá. Minha filha foi fazer várias provas sem que eu tivesse tido tempo de passar a matéria com ela. Meus filhos perderam alguns aniversários de colegas porque eu não tive tempo de sair para comprar o presente, e também nem teria de leva-los à festa. Deixamos de fazer vários programas em família porque gastaria tempo. Não estive presente em algumas reuniões do colégio porque precisava dormir naquele horário, já que tinha passado a madrugada estudando. Não me fiz presente em várias brincadeiras em que eles solicitavam a minha atenção. Não os ouvi em vários momentos que queriam falar, porque naquele momento era a minha hora de estudar.

E sabem como eles reagiam? Como qualquer outra criança: ficavam chateados, choravam, reclamavam... mas findavam se conformando e entendendo. Do preço total a ser pago, essa era a parte que lhes cabia, e eles tinham consciência disso (em maior ou menor grau). Para compensá-los eu separava algum tempo na semana para dar-lhes atenção integral. Atenção de verdade, aquela que estamos de corpo e mente presente, certo? O que mais tem por aí é mãe que passa o dia inteiro com os filhos de forma quase mecanizada. E, mesmo não fazendo todos os passeios que eles queriam, nem levando-os a todos os aniversários que tinham para ir, sempre que possível deixava que eles escolhessem um programa.

Acredito que foi nessa busca pelo equilíbrio que se desenvolveu um dos fatos que mais tenho orgulho desse tempo de estudo: ter conseguido envolve-los no NOSSO PROJETO DE EU ME TORNAR UMA AFRFB. Nenhum deles hoje é traumatizado por causa dos “NÃOS” que levou. Pelo contrário! Internalizaram que quando queremos algo de verdade, precisamos pagar o preço para alcança-lo. E que isto não é um problema, é justiça. Afinal, nada ensina mais que o exemplo.

Acredito que o primeiro passo para conseguir o respeito, a admiração e a parceria deles, é fazer o possível para conciliar as necessidades deles as suas, e vice-versa. Algumas doses de “não” nos momentos apropriados, e pela causa certa, podem fazer eles valorizarem e pagar de bom grado o preço pelo teu “sim”. Isso ocorre, principalmente, quando você consegue fazer com que eles percebam, através de suas atitudes, que no momento deles você está ali de corpo e alma, fazendo o melhor por eles. Parafraseando Che Guevara: é ser firme, mas sem perder a ternura...

Lembram de um artigo anterior que publiquei fotos com os post’it? De vez em quando minha filha pegava um e deixava recadinhos para mim:


Ter conseguido alcançar o meu objetivo, após uma longa e extenuante jornada, trouxe-me muitas alegrias. Mas nenhuma delas eu valorizo mais que o olhar de admiração da minha filha, o orgulho na voz do meu filho, e o respeito que eles tem por mim.

Nesse Dia das Mães, os meu mais profundo e sinceros parabéns a essas guerreiras concurseiras que estão buscando na carreira pública a sua realização profissional, para poderem oferecer uma vida melhor a seus filhos. Vocês sabem que tudo é possível quando há amor e dedicação.

Esse é o primeiro Dia das Mães que passo do lado de cá.
Ano que vem quero várias de vocês desse lado também!!

Um abraço de “mãe”,
Núbia Oliveira
nubiaoliveira@e-concurseiro.com.br
www.facebook.com/nubia.oliveira.00

2 comentários:

  1. ATÉ CHOREI AO LER, ESTOU PAGANDO O PREÇO E NÃO TEM SIDO FÁCIL, MUITO BOM O TEXTO, PARABÉNS!

    ResponderExcluir
  2. Estava precisando ler isto! Obrigada!��

    ResponderExcluir