quinta-feira, 18 de junho de 2009

Socooooorro! As babás estão em extinção

Por Kátia Mello, da Época Online

"De um dia para outro, eu fiquei sem babá. A pessoa que cuidava do meu bebê de 7 meses e do meu outro filho, de 3 anos, quebrou o pé e anunciou que partiria para sua cidade natal, na Bahia, onde a mãe poderia tomar conta dela. Depois de sua partida, o caos instalou-se em minha casa. Eu e meu marido somos profissionais liberais e não tenho sogra ou mãe na mesma cidade. Então com quem deixaria meus pequenos?

Comecei a minha saga atrás de uma babá e em três semanas descobri o que as estatísticas acabam de revelar em uma pesquisa inédita da Organização Internacional do Trabalho: há uma grande demanda de babás e uma pequena oferta de boas profissionais nesse mercado. O Brasil é um dos poucos países em que ainda há serviço doméstico. São 6,6 milhões de brasileiros que ocupam essa categoria, sendo que, desse total, 93,2% são mulheres e 6,8% são homens. As babás são 10%, ou seja, são mais de 6oo mil mulheres, mas está cada vez mais difícil encontrar uma boa profissional, com referência e experiência. Como a demanda é grande, o que existe é um aumento no número de mulheres que querem ser babás por conta do salário. São empregadas domésticas, auxiliares de enfermagem, cozinheiras e até arrumadeiras temporárias que, desempregadas, buscam a chance de ganhar melhor que uma empregada doméstica. O piso salarial de uma babá é o mesmo de uma empregada doméstica, o salário mínimo nacional, de R$ 465,00, mas elas podem ganhar cerca de R$ 1.200, dependendo do tipo de trabalho que exercem. As que não têm experiência e formação acabam zanzando de agência em agência, sem obter emprego.

Na Inglaterra são raras as mães trabalhadoras de classe média que podem pagar as 10 libras (cerca de R$ 32) a hora, exigidas por uma au pair. Talvez as nossas tradições da casa-grande & senzala tenham feito com que nos tornássemos dependentes dessas mulheres dispostas a cuidar de nossos filhos. O pediatra José Martins Filho, ex-reitor da Unicamp e membro da Sociedade Brasileira de Pediatria, vai além. Ele diz que as mães brasileiras delegam tanto os cuidados de seus filhos que eles estão sendo terceirizados. Autor de A Criança Terceirizada - Os descaminhos das relações familiares no mundo contemporâneo (ed. Papirus), Martins diz que a mãe deveria cuidar de seu filho até que ele completasse 2 anos. Além de ter defendido a licença-maternidade de seis meses (aprovada no ano passado), ele diz que a mãe, para poder amamentar, deveria trabalhar apenas meio período ao voltar da licença. Mas como fazer isso no mundo moderno?

Se, por um lado, as babás tornaram-se auxiliares fundamentais para quem trabalha fora, por outro existe a percepção de que elas realmente estão substituindo as mães e fazendo parte dessa terceirização a que o pediatra se refere. É só prestarmos atenção em como aumentou o número de mulheres de branco nos domingos cuidando de crianças na Praia de Ipanema. Ou ainda reparar nessas profissionais dando de comer aos bebês nos almoços dominicais em shoppings paulistanos. Onde estão as mães que delegam tudo às babás, até nos fins de semana? Martins prega a conscientização daqueles pais que reclamam que é um “saco, trabalhoso e chato” cuidar dos pequenos. Ele diz que, antes de ser pai ou mãe, é necessário saber que criança dá mesmo muito trabalho.

Senti essa exaustão na pele e até adoeci (tomei antibiótico, corticoide e muitas inalações para a minha bronquite). Voltei a ter uma ajudante. Mas ficar sem ela durante um certo período também me trouxe muitas alegrias. Passar a dar banho nos meus filhos diariamente se tornou uma das atividades mais prazerosas do meu dia a dia. E você, acredita que as mães estejam terceirizando a maternidade?"

in: http://colunas.epoca.globo.com/mulher7por7/2009/05/11/socooooorro-as-babas-estao-em-extincao/

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